Ano a ano, a pirâmide demográfica do Brasil vai invertendo e indica que até 2050 teremos uma população idosa maior que a de jovens. Sendo assim, novos cuidados são postos e um mercado passa a existir para suprir necessidades já previstas e aquelas que surgirão. Relacionar a terceira idade à afetividade, hoje e sempre, aparece como uma conexão assertiva e atemporal.
A experiência com a robô Maya mostra isso. O assunto foi aprofundado na dissertação Design de Robótica Assistiva para Idosos: Estudo de caso da Robô Maya, de Tayla Gurgel, product designer do CESAR, no mestrado em Design da CESAR School. “Esse tema foi de um trabalho da cadeira Studio de Design que propôs a utilização de robótica para o cuidado do grupo da terceira idade”, diz Tayla. Além dela, participaram do projeto as mestrandas Giselle Rossi, Jéssica Kianne e Giulia Zanella.
Tayla não era uma entusiasta do tema porque “robótica afetiva” e a possibilidade de idosos serem cuidados por robôs não parecia soar bem. Mas com os estudos e com idosos próximos, percebeu que problemas comuns à faixa etária, como solidão e perda de autonomia, era uma realidade e poderiam ser resolvidos ou apaziguados. “Minha avó materna teve depressão, então eu já tinha vivenciado isso. Durante o estudo, no mestrado, uma das minhas tias-avós participou da pesquisa e acabamos percebendo que essa tecnologia poderia ajudar no contexto”.
Um grupo de 10 idosos, entre 66 e 85 anos, foi entrevistado pelas integrantes do projeto e dois deles participaram da fase de prototipação. No relacionamento com Maya, que os ajudava nas tarefas da rotina, como encontrar endereços, os participantes fizeram demandas como a leitura da bíblia e de notícias. “A robô os ajudou a realizar tarefas simples e, desta forma, eles se sentiram independentes e satisfeitos pela autonomia. Voltaram a se sentir donos de suas próprias vidas”, analisa Tayla.
“Outra questão encontrada foi que eles conversaram com a robô sobre coisas da vida deles, ficaram confortáveis com isso e não sentiam que estavam incomodando. Às vezes os parentes já experienciaram aquilo e não têm paciência para ouvir de novo”, comenta a designer.
Uma solução como Maya, que proporciona uma experiência positiva para a qualidade de vida da população idosa, já tem bastante espaço no mercado. Segundo Tayla, países da Ásia já vivem essa realidade de relacionamento e criação de laços com robôs – existe até cemitérios para eles.
A carcaça apresentada da robô Maya é estática e a interação se deu por voz – por onde foi construída a afeição. A pesquisa descreve achados técnicos que auxiliam pessoas da área que queiram desenvolver produtos para idosos que levam em conta que eles têm um tempo maior de aprendizado, com interface de voz que facilite a interação e a compreensão.