Ser acessível é, de forma ampla, ser possível para todos. É um termo usado em muitas áreas e que ainda não tem tanta popularidade quanto necessário dentro do ramo da tecnologia, embora o mercado tenha apresentado cada vez mais avanços, como explica o professor dos cursos de Design da graduação e do mestrado profissional da CESAR School, Marcelo Penha.
A bem da verdade, Marcelo topou com o tema por acaso, quando foi convidado por seu orientador, o professor Walter Correia a participar de um projeto financiado por uma empresa no Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn-UFPE), um convênio firmado via Lei da Informática, que concede incentivos fiscais ao setor privado. Seriam três meses de pesquisas que viraram cinco anos.
O projeto estava focado em acessibilidade móvel para pessoas com vários tipos de deficiência e trabalhou, entre 2015 e 2020, com testes com usuários. “Acabei acumulando uma vivência de testar com usuários PcD (pessoa com deficiência). É uma premissa do Design trabalhar com o usuário as soluções que são desenvolvidas, mas, nem sempre a acessibilidade é uma premissa e, consequentemente, a PcD não participa do processo”, diz Marcelo Penha.
Ao longo do processo, as pessoas com deficiência vão demonstrando infinita capacidade de adaptação; por outro lado, alguns aplicativos ainda pecam em coisas que, hoje, deveriam ser triviais em termos de acessibilidade. “A gente vai descobrindo no teste coisas novas. Por exemplo, um usuário com deficiência motora, numa primeira fase, interagiu com os dedos com dificuldade grande. Noutro momento, estávamos trabalhando em outra pesquisa dentro do projeto, e quando fomos iniciar, vimos que esse usuário passou a interagir com o nariz, dizia que era mais fácil para ele”, relembra.
O mercado acompanha
Marcelo enfatiza que a CESAR School é sensível à questão, abordada de forma transversal na graduação e em duas disciplinas – Acessibilidade 1 e 2 – no mestrado profissional em Design. Apurado, o olhar do profissional fica ainda mais sensível a essas questões, criando meios de a tecnologia estar à disposição do usuário, da forma que ele puder e achar melhor.
“No início, a gente tem uma certa surpresa porque, mesmo diante da dificuldade, eles vão sempre buscando algum tipo de caminho, alguma alternativa. Como será que funciona? Será que eles conseguem de fato?”, pontua o professor. As pessoas com deficiência não só têm aparelhos como smartphones, como buscam alternativas, elas mesmas, de interagir com ele. Palestrante no TDC São Paulo na trilha Diversidade e Acessibilidade, este ano, Marcelo apresentou o tema “Testando com usuários: os desafios e as recompensas da pesquisa em acessibilidade mobile envolvendo pessoas com deficiência”. No evento, fica claro que a visão das empresas vem mudando e muitas já começam a ter questão da acessibilidade e a cada edição do evento, um mundo supostamente ideal parece menos distante, com cada vez mais estudos. “É um mercado em expansão, que tem potencial, mas ainda tem um longo caminho pela frente”.